Falta de escritórios coloca São Paulo e Rio entre as mais caras do mundo

Postado por Ricardo Schwalfemberg

As duas capitais brasileiras têm as menores taxas de vacância, segundo a Colliers. Douglas Frye, presidente mundial da Colliers, diz que não há bolha no país: “A alta dos preços dos imóveis (no Brasil) é saudável e tem fundamento, está baseada simplesmente na demanda e oferta”. As construtoras tiveram vendas mais lentas no primeiro trimestre deste ano. Os números de vendas e lançamentos divulgados por Cyrela, Brookfield e Tecnisa mostram quedas superiores a 25% em relação aos últimos três meses do ano passado.

 

Valor Econômico – SP – 12/04/2011


Daniela D’Ambrosio | De São Paulo
12/04/2011

Douglas Frye, presidente mundial da Colliers, consultoria global de venda e aluguel de imóveis comerciais, nunca tinha vindo ao Brasil – apesar de ter inúmeras informações sobre o país e de a subsidiária estar aqui desde 1997. Impressionado com o tamanho do país e com a energia e atitude dos brasileiros, Frye fala, com desenvoltura, sobre dados demográficos e ascensão da classe média. “O Brasil é o país que tem a melhor história para contar hoje”, diz o executivo. “A China ainda peca na questão da transparência.”

O executivo acaba de voltar do Fórum Mundial de Davos e se diz impressionado com a popularidade do país. “A liderança global está mudando e o Brasil é um dos principais destaques”, afirma. “Talvez vocês não percebam como usam bem a tecnologia a seu favor, vocês são grandes usuários de internet”. Mas ressalta, também, os desafios da infraestrutura e do crescimento rápido. “O Brasil terá que saber gerenciar essa expansão”, afirma.

Apesar do forte aumento de preços no mercado imobiliário brasileiro nos últimos dois anos – no mercado de escritórios, os aluguéis chegaram a dobrar em endereços mais nobres e, na média, em 2010, os preços tiveram aumento real de 17% – Frye defende que não existe bolha. “A alta dos preços dos imóveis é saudável e tem fundamento, está baseada simplesmente na demanda e oferta.”

Estudo global da Colliers mostra que São Paulo e Rio são as duas cidades do mundo com taxa de vacância (índice de escritórios vagos) mais baixas do mundo, 2,6% e 1,6%, respectivamente. Na América Latina, essa taxa é de 5,9%. Em Nova York, a vacância é de 12,4%. Em Londres está em 8,2% e em Shangai, de 13,1%.

A evolução do mercado de escritórios é recente. Apesar da crise de 2008, a rápida recuperação do mercado brasileiro e a necessidade das companhias em expandir atuação e, consequentemente, buscar espaços maiores, fez com que a oferta disponível fosse ocupada rapidamente. Em 2003, a taxa de vacância em São Paulo era de 14,7%, contra 2,6% em 2010. É uma das quedas mais expressivas em sete anos.

Desde o ano passado, as duas cidades brasileiras figuram no ranking dos aluguéis de escritórios mais caros do mundo -situação favorecida pela valorização do real frente ao dólar. Levantamento global da Colliers, com base nos preços de dezembro de 2010, mostra que o preço médio do metro quadrado no Rio custava US$ 94,74 (o que coloca a cidade na sexta posição, atrás de cidades como Hong Kong, Londres e Paris). São Paulo ficou em oitavo lugar, com aluguel médio de US$ 79,73 o m2. Na Faria Lima, por exemplo, os preços pedidos já se aproximam de R$ 200.

Uma comparação com outras cidades da América Latina torna mais evidente a falta de oferta de escritórios de alto padrão no Brasil. Segundo dados da Colliers, São Paulo tem hoje menos escritórios do que Buenos Aires e Santiago e a metade da Cidade do México. Essa situação, no entanto, é temporária. O mercado é cíclico e, diante do aquecimento atual, há muitos projetos por vir. O mercado paulistano receberá cerca de 230 mil m2 em 2011, 13% do estoque atual. Até 2014, a cidade de São Paulo ganhará cerca de 850 mil m2 em novos edifícios e há mais 600 mil m2 em projeto, ainda sem data de definida para lançamento

Atualmente, São Paulo é a oitava cidade com maior quantidade de metros quadrados em construção, perde para quatro cidades chinesas, Moscou, Tóquio e Cidade do México. “O Brasil vai chegar no topo dos investimentos em 2012”, afirma, acrescentando que, com o aumento da oferta, os preços dos aluguéis devem se estabilizar.

A visita de Frye ao Brasil se justifica tanto pela importância do país no cenário global, quanto pela estratégia da companhia. A Colliers pretende fazer a aquisição de uma empresa de gestão de condomínios – mercado no qual as suas concorrentes diretas já atuam. Com faturamento global de US$ 2 bilhões em 2010, a Colliers não abre a receita no Brasil. É líder na comercialização de imóveis industriais, mas ainda tem uma participação inferior às multinacionais do setor, Jones Lang La Salle, CB Richard Ellis e Cushman & Wakefield.

Vendas das construtoras recuam no trimestre De São Paulo
12/04/2011

As construtoras tiveram vendas mais lentas no primeiro trimestre deste ano. Os números de vendas e lançamentos divulgados por Cyrela, Brookfield e Tecnisa mostram quedas superiores a 25% em relação aos últimos três meses do ano passado – comparação que melhor traduz o termômetro do mercado. A exceção, até o momento, é a PDG, com vendas praticamente estáveis e Rodobens, que teve um quarto trimestre atípico.

Ainda que o primeiro trimestre seja sazonalmente o mais fraco – as vendas costumam ser mais fortes após o Carnaval, que foi mais tarde este ano – e os últimos três meses de 2010 os melhores – pois as empresas desovam mais produtos novos – as quedas em relação ao fim do ano passado estão sendo consideradas expressivas pelo setor. Embora a amostra seja pequena, os números já podem sinalizar um desaquecimento do mercado.

No caso da Brookfield, no quarto trimestre, a companhia havia vendido R$ 980 milhões. No primeiro trimestre deste ano, vendeu R$ 638 milhões, uma queda de 34,8%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2010, a companhia registrou um aumento de 14% nas vendas. A velocidade de vendas da companhia – desconsiderando dois prédios comerciais, cuja dinâmica de vendas é diferente – ficou em 20%, acima dos 15% do primeiro trimestre de 2010.

A PDG, que assumiu a liderança do setor no ano passado com a compra da Agre, vendeu R$ 1,7 bilhão de janeiro a março. Uma queda de 3% em relação ao último trimestre de 2010 e alta de 25,7% na comparação com o mesmo período de 2010. Do total vendido, R$ 1 bilhão referem-se a estoques. Segundo Zeca Grabowsky, presidente da PDG, as vendas aceleraram depois do Carnaval. A velocidade de vendas da companhia, que no ano passado teve média de 31,5%, ficou em 29% no começo deste ano. “O ano passado foi espetacular, este ano deve haver uma queda na velocidade de vendas, mas pretendemos ficar acima de 25%”, diz.

A Tecnisa, que concentra 70% das vendas em São Paulo, vendeu R$ 545 milhões no primeiro trimestre, 249% acima de 2010 e 27,3% abaixo do quarto trimestre do ano passado.

A Cyrela vendeu R$ 844 milhões no primeiro trimestre, queda de 2,87% em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com o quarto trimestre do ano passado, o recuo é de 57,3% nas vendas. Com um estoque alto no fim do ano passado (R$ 4,8 bilhões), a velocidade de vendas da Cyrela foi de 16,5% no primeiro trimestre de 2011, contra 25,4% no mesmo período de 2010.

Na Rodobens, que atua no segmento econômico, as vendas aumentaram 19% em relação ao primeiro trimestre de 2010 e 11,7% na comparação com o fim do ano passado, quando vendeu R$ 188 milhões.

Nos lançamentos, as grandes aceleraram o passo para sinalizar ao mercado que cumprirão as projeções do ano. A PDG lançou R$ 1,758 bilhão, o que representa 19% do ponto médio da projeção do ano, estimada em R$ 9,5 bilhões. A Cyrela, após concentrar 70% dos lançamentos no fim de 2010, lançou R$ 1,15 bilhão, 93,3% acima dos primeiros três meses de 2010. A Brookfield lançou R$ 466 milhões de janeiro a março, alta de 45% sobre o ano passado.

As empresas brasileiras estão entre as mais rentáveis do mundo. Estudo da Economática divulgado na semana passada mostra que sete das dez construtoras mais lucrativas do mundo estão no Brasil – duas são americanas e uma, mexicana. A PDG lidera o ranking, seguida por MRV, Cyrela, Gafisa, Brookfield, Rossi e Even. (DD)

Valor Econômico – SP – 12/04/2011

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